segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Castanholeira Chora seu Próprio Fim

Uma castanholeira do Parque Ecológico Rio Branco foi brutalmente cortada hoje, 20 de julho. Luísa Vaz assim expressa sua revolta ante o tratamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza às árvores que ela deveria cuidar.

Hoje, Dia do Amigo, filtrei os primeiros raios de sol seguindo uma rotina de longos anos. Primeiro vieram os pássaros com suas cantorias, depois os amigos do parque em alegre vaivém.
Eu não tenho uma história nacional e por isso não desfruto a consideração das nativas, mas todos hão de convir que sou boa de sombra e os pássaros gostam dos meus frutos. Passei toda a minha vida cumprindo essa missão de amiga, pois assim fui denominada numa canção: “As árvores são amigas, purificam o ar, acolhem os passarinhos que nela vêm pousar...”
Eu protegi meus amigos contra o sol e até contra a chuva, mas o tempo envergou meus galhos, secando-os. Além disso, fui atacada por uma legião de parasitas que sugaram parte da minha vitalidade. Eu teria gostado de receber um auxílio em meu tronco, talvez um inseticida que expulsasse os malfeitores da minha vida, mas por eu não ser considerada nobre, apontaram-me uma serra elétrica. E eu tinha ânsia de vida, disposta que estava a ver outros dias amanhecendo, mas meu fim foi determinado sem nenhuma lógica.
Ninguém pode ouvir meus gritos de dor. Em pouco tempo fui violentamente decepada de minhas raízes e caí a esmo, feito um estrupício, levando a destruição ao meu entorno. E eu que só queria ser amiga, dar sombra, purificar o ar, de repente fui impelida a causar estragos na ponte onde seu Zé Maia dava mais uma volta derrapando de tão veloz. Com a violência com que fui atirada ao chão, carreguei comigo a fiação dos postes, levando medo e indignação aos frequentadores do parque. Meu tronco forte abriu uma cratera no piso, que agora representa mais um perigo.
Enquanto caía, me veio a saudade do alarido das crianças nos brinquedos, dos transeuntes apressados, das manifestações do Proparque, saudade de minha raiz apartada de mim.
Adeus, Parque Rio Branco! Vou para um destino incerto, o lixo talvez. Minhas folhas estão espalhadas feito lágrimas. Amanhã os varredores limparão minha existência e em meu lugar restará o vazio, que deve ser semelhante ao cérebro de quem me destruiu.

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