terça-feira, 26 de julho de 2011

Quando as semelhanças não são coincidências

(por Luísa Vaz)

O recente episódio dos R$ 400 mil que uma associação fantasma embolsou do Estado sob a promessa não cumprida de construir banheiros para uma comunidade carente de Pindoretama-CE me fez lembrar do filme “Quanto vale ou é por quilo?”, do cineasta Sérgio Bianchi (2005).

No filme é feita uma comparação da escravidão e seus males com o modelo neoliberal incorporado na prática de empurrar para o terceiro setor as demandas sociais que o Estado se recusa a atender diretamente, deixando as associações como executoras de projetos cujos resultados, via de regra, atendem mais os interesses dos executores que os interesses dos demandantes.

Em entrevista ao CETV, o governador disse que a intermediação da tal associação era a única forma de viabilizar a construção dos banheiros, mas não explicou por que diabos o Estado precisa dessa intermediação. Eu fico pensando que se é assim, por que o Estado não tem a precaução de saber a quem está entregando o dinheiro público? Será que o governador compra alguma coisa com o seu dinheiro dessa forma?

As cenas do filme são chocantes, mas não tanto quanto a vida real de pessoas cuja vulnerabilidade socioeconômica é exposta em manchetes de jornais, protagonistas de um enredo macabro que muitas vezes nem conseguem alcançar em sua amplitude.

E por falar em paralelismo, vou arriscar traçar um também, modestamente. Há um tipo de planta (parasita) que migra para as copas das árvores e rapidamente toma conta do caule dessas plantas, causando-lhes grande malefício e até a morte. Pois considero algumas associações, principalmente as comandadas (ou encomendadas!) por políticos, como parasitas que invadem o patrimônio público e causam grandes malefícios à cidadania. Explico: associação que se presta a certos papéis, com certeza é acrítica, conformada e conformadora. Não reivindica, só barganha com quem estiver no poder.

Depois de 16 anos atuando no Parque Ecológico Rio Branco, o Movimento Proparque continua sem CNPJ, sem barganha, sem padrinho político, sem verba governamental, mas com muita liberdade e discernimento.

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