Por Luísa Vaz
Coordenadora do Movimento Proparque
Um dia sonhei que meu quintal se estendia para além dos muros da minha casa. Era uma revelação surpreendente que me permitia antever tudo que eu poderia plantar e colher no grande espaço que se descortinava.
Eu, tendo minhas raízes no sertão, cresci com o sabor dos alimentos da terra cultivados pelas mãos habilidosas de meus pais. Eles faziam milagre com um pedacinho de terra: batata doce, milho, feijão, fava, amendoim, banana, mamão, cana de açucar... tudo era pouco para alimentar onze criaturinhas cheias de apetite.
A terra, para nós, tinha o aroma da espiga de milho quebrada na hora de ir para o fogão a lenha, mas não só. Minha mãe adorava flores e as cultivava com empenho. Pelo mês de maio, se o inverno era bom, no nosso terreiro tinha flores de todas as cores para enfeitar os altares de Nossa Senhora.
Tornei-me, então, amante do verde, dos aromas e das cores das plantas com o decorrer do tempo, mesmo antes de ter qualquer ideia de meio ambiente.
Aqui, na cidade do asfalto, vivendo outra realidade, continuei sonhando com o verde da minha terra, com o cheiro de mato.
Quando, em 1994, nos mudamos para o bairro Joaquim Távora, entendi o sonho: por trás do muro da nossa casa, triste e desprezado, estava o parque. Um amontoado de lixo, aterro e esgotos clandestinos inicialmente nos causaram temor. Mais ao longe uma favela crescia a cada dia. Como é que a gente compra uma casa sem se preocupar com o seu entorno? E agora? Que problemão...
Um vizinho veio nos visitar e nos fez esta proposta: nós todos do quarteirão poderíamos aumentar nossos quintais para dentro do parque, pois “todo mundo tá aumentando, a prefeitura não liga...”. Meu marido e eu entendemos a situação e resolvemos agir ao contrário: defender o espaço coletivo para ele continuar sendo coletivo. Assim nasceu o Movimento Proparque.
Nesses quinze anos de Proparque temos muitos frutos a colher: as pessoas estão usando o parque para fazer caminhadas, o que antes não acontecia. Encontrar gente de todas as idades fazendo caminhadas, usando o parque, de fato não tem preço.
Nesses quinze anos de Proparque vamos acumulando experiências e algumas certezas: trabalhar em prol do meio ambiente é um desafio que, em contrapartida, traz muitas alegrias. Mas nada se compara à evolução da paisagem que, a cada dia ganha novas cores.
domingo, 11 de abril de 2010
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